No cenário atual da nutrição e saúde pública, a transição para dietas mais sustentáveis e baseadas em plantas tem ganhado destaque significativo. No entanto, uma questão crucial emerge nesse contexto: será que uma dieta vegetariana ou vegana necessariamente significa uma alimentação mais saudável? Um estudo revolucionário conduzido pelo UK Biobank lança luz sobre essa questão, analisando a relação entre diferentes padrões alimentares e o consumo de alimentos ultraprocessados.
A pesquisa, que envolveu uma impressionante amostra de 199.502 participantes, revelou descobertas surpreendentes sobre os hábitos alimentares de diferentes grupos, desde consumidores regulares de carne vermelha até veganos. O que torna este estudo particularmente relevante é sua análise detalhada do consumo de alimentos processados e ultraprocessados em diferentes padrões alimentares, oferecendo insights valiosos sobre a qualidade nutricional das dietas contemporâneas.
Metodologia e Classificação dos Alimentos
O estudo utilizou o sistema NOVA de classificação de alimentos, que categoriza os produtos em quatro grupos distintos. O NOVA 1 inclui alimentos minimamente processados como frutas, vegetais e legumes. O NOVA 2 abrange ingredientes culinários processados como açúcar e óleos vegetais. O NOVA 3 representa alimentos processados como pães frescos e queijos, enquanto o NOVA 4 engloba os alimentos ultraprocessados, que são formulações industriais contendo substâncias exclusivamente industriais.
Os participantes foram categorizados em seis grupos diferentes: consumidores regulares de carne vermelha, consumidores moderados de carne vermelha, flexitarianos, pescetarianos, vegetarianos e veganos. Esta classificação permitiu uma análise detalhada dos padrões de consumo em cada grupo dietético.
Descobertas Surpreendentes
Uma das descobertas mais intrigantes do estudo foi que o consumo de alimentos ultraprocessados não seguiu um padrão linear em relação ao nível de restrição de alimentos de origem animal. Curiosamente, os vegetarianos apresentaram um consumo significativamente maior de ultraprocessados, enquanto pessoas que reduziam moderadamente o consumo de carne vermelha, flexitarianos e pescetarianos demonstraram níveis mais baixos.
Os veganos, por sua vez, apresentaram maior densidade de fibras e menor consumo de energia total, gorduras saturadas e sódio. No entanto, o consumo de açúcares livres foi universalmente alto em todos os grupos, superando 13% da ingestão total de energia, mais que o dobro do recomendado pela Organização Mundial da Saúde.
Implicações para a Saúde e Sustentabilidade
O estudo levanta questões importantes sobre a qualidade nutricional das dietas à base de plantas e seu impacto na saúde pública. Embora estas dietas sejam frequentemente promovidas como mais saudáveis e sustentáveis, a pesquisa demonstra que o nível de processamento dos alimentos é um fator crucial a ser considerado.
É particularmente preocupante o alto consumo de alternativas ultraprocessadas à carne e produtos lácteos entre vegetarianos e veganos. Estas opções, embora convenientes, podem não oferecer os benefícios esperados para a saúde e sustentabilidade ambiental.
Caso você possua alguma dificuldade ou necessidade para seguir uma dieta vegana ou vegetariana, consultar uma nutricionista vegana pode ser uma opção interessante.
Conclusão
Este estudo pioneiro do UK Biobank demonstra que a simples adoção de uma dieta à base de plantas não garante necessariamente uma alimentação mais saudável. O nível de processamento dos alimentos emerge como um fator crucial na qualidade nutricional da dieta, independentemente das escolhas dietéticas específicas. É fundamental que as políticas públicas que incentivam a transição para dietas mais sustentáveis também promovam o consumo de alimentos minimamente processados. Consultar uma nutricionista vegetariana pode ser benéfico caso você tenha alguma dificuldade para aderir a dieta vegana.
Fonte: Chang K, et al. Plant-based dietary patterns and ultra-processed food consumption: a cross-sectional analysis of the UK Biobank. eClinicalMedicine. 2024. The Lancet eClinicalMedicine